BEBA VINICIUS, LEIA
CLARICE, RESPIRE JOHN LENNON
- ELIAS RIBEIRO PINTO
COLUNA
DESTA QUARTA (8/3/17) NO JORNAL DIÁRIO DO PARÁ
E se um dia o amor acaba, como soletrou o nosso Paulinho Mendes Campos, saiba, à Vinicius, sair sem gritar, bater (nem mesmo a porta), levando, quando muito, a escova de dente e a senha do Facebook, e deixando uma luz acesa, para, quem sabe, a tristeza um dia quiser entrar
Cláudio da Conceição chega em casa e não gosta do cheiro da comida preparada por sua mulher, Maria de Nazaré. Joga fora a comida, ela reclama, protesta. Cláudio pula para cima dela, quer esganá-la. Vizinha socorre, a mulher aproveita e dá uma vassourada na cabeça do marido, que é preso.
Marido dá seis facadas na mulher. Não se sabe o
motivo.
Além de balear a mulher, esposo dá uma surra e a expulsa de casa junto com os seis filhos. Ela fica paralítica.
Além de balear a mulher, esposo dá uma surra e a expulsa de casa junto com os seis filhos. Ela fica paralítica.
Mulher é
esfaqueada pelo amante porque lhe serviu café frio.
Atira na esposa e pensando tê-la matado, suicida-se. Motivo ignorado.
Atira na esposa e pensando tê-la matado, suicida-se. Motivo ignorado.
Marido é
esfaqueado pela esposa.
Amarrou a
esposa e a surrou.
Enciumado,
marido matou a mulher a terçadadas.
Playboy
boa-pinta assassina a “Pantera de Minas” à queima-roupa, na véspera do
réveillon. Por causa desse crime passional, de grande repercussão no país,
surgiu a frase: Quem ama não mata.
Marido
agride mulher com um martelo.
Por ciúme,
amante agride mulher a socos, pontapés e ainda dá uma facada em seu ventre.
Mulher
abandona o lar. Volta para pegar a carteira da previdência.
No lugar da
carteira, recebe do marido socos e pontapés.
Pai
violenta sucessivamente suas quatro filhas, de 18, 17, 14 e 12 anos. Ameaçada
de morte, a esposa só dá queixa à polícia quando o marido violenta a filha
menor.
Esbofeteia
a mulher porque ela pediu dinheiro para comprar remédio para o filho doente.
Enciumado,
companheiro arranca orelha da amante.
Homem
conformava-se com a traição da amante. Um dia, desespera-se e lhe pede
explicações. Em vez das explicações, ele recebe 12 facadas.
Marido
esconde-se debaixo da cama e flagra traição da mulher. Levanta-se, mata a
mulher a tiros e agride o Ricardão.
Marido e
mulher brigam e vão parar, feridos, no Pronto Socorro.
Atirou e
matou a esposa no 7º mês de gestação, após espancá-la. A criança também morre.
Antes a vítima havia se queixado à polícia dos maus tratos do esposo. A queixa
foi dada horas antes do crime.
Cansada de
apanhar, ao ser mais uma vez espancada, Kelly, para se defender, mata o
companheiro, Ademar, com uma faca de cozinha.
Sônia, 24
anos, matou o marido, João, depois que uma discussão banal transformou-se numa
sessão de pancadaria e insultos. Formavam um casal classe média, com carro e
casa própria. Ela lhe derrama água quente, no ouvido, de uma panela que fervia.
Ele lança urros desesperados. Ela diz: “Não grita. Eu apanhei e não gritei”.
João morre no Pronto Socorro no dia seguinte.
Os casos
acima narrados, com nomes fictícios ou crismados pela imprensa, atravessam
séculos, décadas, ou ocorreram ainda ontem. Ou periga ser lido no caderno
policial de hoje. Mesmo com a Lei Maria da Penha, os homens continuam
espancando ou matando a quem dizem amar. Na periferia ou em área nobre, no
Curuçambá ou em Batista Campos.
Tolos,
pensam que Nelson Rodrigues falava a sério quando dizia que as mulheres gostam
de apanhar. Era encenação do Nelson, uma flor de pessoa, um cavalheiro. Seu
melhor papel era o de “reacionário”.
As mulheres
às vezes também reagem, encaram, matam. O sexo frágil vai para a luta, o leito
um ringue.
John Lennon
cantou: faça amor, não faça guerra. Sua história de amor com Yoko Ono podemos
acompanhar, como capítulos, através de suas canções, serenata cantada à beira
do Central Park.
Mas aqui
entre nós o poetinha Vinicius de Moraes ensinou o bê-á-bá para viver um grande
amor. E se um dia o amor acaba, como soletrou o nosso Paulinho Mendes Campos,
saiba, à Vinicius, sair sem romper, gritar, bater (nem mesmo a porta), levando,
quando muito, a escova de dente e a senha do Facebook, e deixando uma luz
acesa, para, quem sabe, a tristeza um dia quiser entrar.
Não mate,
não morra por amor. Apenas deixa o seu amor viver. E se o desespero um dia
bater, beba Vinicius, leia Clarice Lispector, respire John Lennon.
Já os casos
acima citados parecem ter nascido da pena do grande contista curitibano Dalton
Trevisan: grotescos Joões e Marias perdidos na selva selvaggia da guerra
conjugal.
https://www.facebook.com/elias.ribeiropinto/posts/10208707548227733?comment_id=10208708420769546&reply_comment_id=10208708428369736¬if_t=feed_comment_reply¬if_id=1488983854784961
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