Viagem
através do tempo do homem
francisco vaz brasil
“i
don’t wanna be a soldier mamma,
i
don’t wanna die…”
O tempo é paridor
de estrelas...
eu não quero
ser soldado, mamãe,
eu não quero
morrer,
ser mais uma
vítima
da eterna
intolerância humana...
preciso
contar às crianças vindouras
alguma
história das belas manhãs de janeiro
e dos
memoráveis idílios y factos das humanas eras...
primeiro fui
nômade, inventei a roda;
fiz fogo
atritando pedras;
inventei a pólvora;
senti fome e
cacei;
senti frio e
criei abrigo, choupanas, vilas e
cidades;
organizei
linguagens e gramáticas;
decifrei a
pedra da roseta egípcia;
criei bulas,
calendário, bússola, caleidoscópio;
fomentei o
escambo e organizei mercados e bolsas...
eu não quero
ser soldado mamãe,
não quero
morrer entrincheirado na lama,
ser alvo de
metralhadoras e mísseis assassinos,
alimento de
ratos e piolhos ou vítima da peste negra...
tuaregue no Saara, lá amei Cleópatra;
tive riquezas
no antigo Mali;
em 1324 Mansa
Mali fez-me companhia
na
peregrinação à Meca,
dever
muçulmano uma vez na vida...
vi
Napoleão
sonhar com Waterloo,
Ghandi
libertar a Índia,
Joana D’Arc
vencer os ingleses em Reims
e ser
queimada em praça, com a bênção da Inquisição.
vi
A cabeça de
João Batista na bandeja de Salomé;
os cafezais
venezuelanos de Simon Bolívar;
a abertura do
Suez, entre Europa e Índia;
Murasaki
Shikibu contando A História de Genji;
o índio e a
loira amando-se na linha do horizonte
e Coca Cola
sendo saboreada em Shanghai...
quero contar
às crianças vindouras
como o sultão
Maomé conquistou Constantinopla em 1453;
porque Santos
Dumont pilotou o 14-Bis e suicidou-se;
sobre as
lições de anatomia de Andréas Vesalius, em Pádua;
o Ser ou Não
Ser, em Hamlet, de Shakespeare;
sobre Henry
Ford e o Ford T;
sobre as
guilhotinas da Bastilha na Revolução Francesa;
sobre a
locomotiva de George Stephenson;
sobre
Alexander Graham Bell e o telefone;
do mofo que
salva, na penicilina de Fleming;
sobre
Openheimer e a bomba atômica no dia
em que a Terra
parou sob o bombardeiro Enola Gay
ignorando as
crianças de Hiroshima e Nagasaki...
eu não quero
ser soldado mamãe;
eu não quero
morrer sem bancar o sofista;
sem poder
rever Anaxímenes, Sócrates, Aristóteles, Platão.
Eu preciso
dizer às crianças vindouras,
de Sapho, Shelley, Sheldon, Celan, Drummond e Cabral;
de Cecília,
Paes Loureiro, Max Martins, Neruda e Cervantes;
dos infernos
de Dante na Divina Comédia;
da
Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud;
do telégrafo
de Guglielmo Marconi;
comentar com
elas as Leis de Newton e as teorias de Einstein;
estudar com
elas a Origem das Espécies de Charles Darwin,
os trabalhos
de Vital Brasil e a Lei das Doze Tábuas...
eu preciso
viajar com as crianças vindouras
as trilhas de
Marco Pólo, Colombo e Pedro Álvares
Cabral;
de Ibn
Battuta, Zheng He, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães,
Hernán
Cortés, Matteo Ricci, Edwin Hubble e Jacques Custeau...
preciso
falar-lhes de Guilherme, o Conquistador;
de Napoleão
Bonaparte, do Papa Inocêncio, de Kublah Khan,
de Suleimã, o
Magnífico, de Catarina de Médicis, de Elizabeth de Akbar,
de Otto von
Bismarck, Frederick Douglass, Susan Anthony, Florence Nightingale,
John D. Rockefeller, Jane Addams, Mohandas Ghandi, Vladimir Lênin, Helen Keller,
Adolf Hitler, Mão Tse-Tung, Kwame Nkrumah, Nelson Mandela, Martin Luther King,
John Kennedy, Ruy Barbosa, Truman Capote, Susan Sontag, Jane Austen...
John D. Rockefeller, Jane Addams, Mohandas Ghandi, Vladimir Lênin, Helen Keller,
Adolf Hitler, Mão Tse-Tung, Kwame Nkrumah, Nelson Mandela, Martin Luther King,
John Kennedy, Ruy Barbosa, Truman Capote, Susan Sontag, Jane Austen...
eu não quero
ser soldado mamãe,
eu vi muita
gente morta na Riachuelo, de Canudos;
em Bruxelas,
nos campos de concentração alemães;
nem no Vietnã,
em Bombaim ou nas Malvinas.
mamãe eu não
quero morrer
de napalm, de
gás mostarda, de gás cloro, ou pó anthrax
e muito menos
sob mísseis ou fuzis AR 15 ou em fogo cruzado
nos morros do
Rio de Janeiro;
eu preciso
mamãe, falar às crianças vindouras,
sobre Fan
Kuan, Guido de Arezzo, Dante Alighiere, Hemingway,
Da Vinci,
Michelangelo, Rafael, Andréa Palladio, Lous Armstrong,
Shakespeare,
Monteverdi, Cao Xueqin, Hokusai, Beethoven, Tolstoi,
Picasso, Walt Disney, Cézanne, Rousseau, Marx, Engels, Adam Smith,
Picasso, Walt Disney, Cézanne, Rousseau, Marx, Engels, Adam Smith,
Kipling,
Vinicius de Moraes, Beatles, Queen, Rolling Stones, Woodstock,
Ibn Sina, Zhu Xin, Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Lampião,
Ibn-Khaldun, Lutero, Descartes, Foucault, Locke, Kant, Simone de Beauvoir,
Madre Tereza, Jobim, Charles Dickens, Walt Whitman, Marguerite Duras,
Albert Camus, Fernando Pessoa, Emile Dickinson, Noel Rosa, Borges, Márquez,
Parra, Kerouac, e mais...
Ibn Sina, Zhu Xin, Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Lampião,
Ibn-Khaldun, Lutero, Descartes, Foucault, Locke, Kant, Simone de Beauvoir,
Madre Tereza, Jobim, Charles Dickens, Walt Whitman, Marguerite Duras,
Albert Camus, Fernando Pessoa, Emile Dickinson, Noel Rosa, Borges, Márquez,
Parra, Kerouac, e mais...
“i
don’t wanna be a soldier mamma,
i
don’t wanna die…”
eu preciso, também,
botar meu bloco na rua,
agarrar a
primeira colombina,
levá-la ao
meu Jardim da Babilônia
e agitar no
bloco Jacaré No Sê-KuhAnda;
depois
sairemos no Há Jacob no Pau de Arara
e
amar-nos-emos até a quarta-feira de cinzas
e nos
embeberemos nas madrugadas de janeiro
e tocaremos
as trombetas e acordaremos os cavaleiros do apocalipse.
agora, mamãe,
eu quero é botar meu bloco na rua.
mas, antes
preciso conversar com as criancinhas vindouras
eu tenho uma
esmeralda na algibeira e muita história pra contar.
“i
don’t wanna be a soldier mamma,
i
don’t wanna die…”
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