DE
LIVERPOOL A BELÉM
Elias
Ribeiro Pinto
A
beatlemania invadia os quatro cantos do planeta,
onde se ouviam os berros de iê-iê-iê, incluindo Belém
onde se ouviam os berros de iê-iê-iê, incluindo Belém
COLUNA DESTA TERÇA (22/4/2014) NO JORNAL DIÁRIO DO PARÁ
1 No dia 3 de janeiro de 1964 o primeiro clipe integral de uma canção (“She Loves You”) dos Beatles, a nova sensação da música pop, vai ao ar na TV dos Estados Unidos, ao vivo, com uma penca de adolescentes berrando ao fundo. Um pouco depois, no dia 6 de julho de 1964, se dá a estreia mundial de "A Hard Day’s Night" em Londres. Entre essas duas datas temos a primeira menção ao conjunto na imprensa brasileira, na capa do caderno B do Jornal do Brasil, no dia 17 de janeiro. O texto informa que eles “vestem-se de cor-de-rosa, devoram bombons de groselha com velocidade industrial, usam barbas e bigodes postiços quando saem à rua, mas as enormes cabeleiras que ostentam são absolutamente autênticas”.
2
À estreia do filme em Londres compareceram a princesa Margaret e seu então
marido, lorde Snowdon. Os fãs tomaram de assalto a área em torno do Piccadilly
Circus, interrompendo o tráfego. Em Liverpool, para onde os Beatles seguiram
quatro dias depois, a fim de assistir à primeira exibição do filme na terra
natal, cerca de 100 mil fãs se alinharam ao longo do trajeto, desde o
aeroporto, para saudar os conterrâneos, agora celebridades mundiais.
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Andrew Sarris, um crítico de cinema norte-americano, do "Village
Voice", saudou a fita como “o 'Cidadão Kane' dos musicais de jukebox, uma
brilhante cristalização de partículas culturais tão diversas quanto o filme
pop, o rock’n’roll, o cinema-verdade, a nouvelle vague, o cinema livre, a
afetada câmera de mão, o culto do pré-adolescente assexuado, o semidocumentário
e a espontaneidade calculada”. Uau.
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A beatlemania invadia os quatro cantos do planeta, onde se ouviam os berros de
iê-iê-iê, incluindo Belém, of course. Mas o filme "A Hard Day’s
Night" só desembarcaria por aqui um ano depois. Exatamente no dia 27 de
junho de 1965, um colega de ofício de Sarris, o crítico de cinema Acyr Castro,
reportando-se ao filme que estreara no dia anterior, no Cine Ópera, observou,
num jornal local, que "Os Reis do Iê Iê Iê" (título que "A Hard
Day’s Night" recebeu no Brasil) é “um filme francamente jovem, moderno,
que irá desagradar com certeza absoluta aqueles que continuam a ver o cinema
como uma manifestação ou do sentimentalismo burguês (os adeptos da teoria cem
por cento capitalista) ou do reacionarismo soviético (os ingênuos da área
comunista também chamada vermelha ou pseudorrevolucionária), passando pelo
estágio comum da mediocridade (o bom mocismo sebastianista saudoso dos bons
tempos da Rainha Vitória)”. Uau.
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Conquistado, Acyr incluiria a fita em sua lista dos melhores filmes de 1965,
lista canônica entre os críticos paraenses, que elegiam, no primeiro mês de um
novo ano, os melhores do ano anterior.
6 Mas os ecos do yeah, yeah, yeah de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr já ecoavam no Brasil bem antes da chegada do primeiro filme da banda. Em 1963, o cantor cearense Fagner lembra de ter ficado paralisado, quando atravessava uma rua de Fortaleza, ao escutar os acordes de “I Want to Hold Your Hand”.
6 Mas os ecos do yeah, yeah, yeah de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr já ecoavam no Brasil bem antes da chegada do primeiro filme da banda. Em 1963, o cantor cearense Fagner lembra de ter ficado paralisado, quando atravessava uma rua de Fortaleza, ao escutar os acordes de “I Want to Hold Your Hand”.
7
Nas protocolares férias de julho em Mosqueiro, foi numa apropriada rede que o
“pré-adolescente assexuado” (conforme Andrew Sarris) Edgar Augusto se deixou
embalar e seduzir pelo refrão irresistível de “She Loves You”.
8
Os Beatles não foram os primeiros habitantes de Liverpool a fazer sucesso por
aqui, pelo menos no século passado. Curiosamente, enquanto de um lado a página
de um jornal local anunciava a programação de cinema, com a estreia do filme
dos Fab Four, bem ao lado, na página seguinte, a Linha Booth anunciava a
partida de seus navios que faziam linha com a Europa e a América do Norte. Como
muitos ainda se lembram, o belo edifício-sede da Booth ficava na subida da
avenida Presidente Vargas. A empresa era controlada pela “The Booth Steamship
Company Limited”, com sede, ora, ora, em Liverpool. Esse mundo é mesmo pequeno.
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