domingo, 27 de julho de 2008

Era um três de outubro, por francisco vaz brasil

Era um três de outubro

francisco vaz brasil

era um três de outubro,

manhã de domingo.

Transeuntes y caminhantes,

canoeiros y caminhoneiros,

-mais de dois milhões,

como carneirinhos doutrinados

com suas sandálias calçados,

surradas indumentárias,

apressadamente surgiam.

E muitos pensavam (?)

em mudanças, outros,

radicalmente contrários.

Eram milhares

naquela andança em outubro:

ricos, pobres, pretos brancos,

desnutridos, falidos, loucos,

- reféns de sonhos.

Sob o sol equatorial,

um rio de gente

com seus sorrisos amarelos

óculos escuros

óbulos obscuros,

lábios contorcidos

bílis escarlate,

hálitos odorosos,

cáries e próteses expostas

transeuntes de um outubro

inimaginavelmente amazônico

de um continente chamado Pará...

Nos muros, espelhados,

os resquícios de uma batalha:

outdoors com fotografias

e nomes gravados a tinta y sangue

dos deuses das geografias,

dos nobilíssimos sócios do ócio;

Nas tevês, rádios, alto-falantes,

frescas notícias iraquianas,

horóscopos oníricos/satíricos,

bombardeios de beijos e abraços,

pesquisas capciosas/indecisas

y parábolas de amor e ódio.

E toda gente foi chegando,

sadicamente portando

canetas coloridas de ilusão

e títulos pudicamente verdes

na ignorância e desejo...

Um poeta menino

com seus olhinhos vermelhos

e mãos crispadas aos céus

daquele três de outubro,

taciturno/perplexo/apático,

murmurava em mudez esperançada:

- serão todos andróides

das promessas de melhor dia?

Portas e vitrines fechadas,

cacos de Coca Cola no chão

cartazes e santinhos espalhados

sujos de escárnio e promessas

a não cumprir;

Cidades revoltas em pó,

de fome, pneus, esquecimentos...

Corruptíveis e corruptores,

mãos dadas, punhos cerrados

em rapinada calculada

avançam sansanicamente

em direção aos prédio e palácios

(cujas portas se abriam mansamente

como suaves coxas morenas,

para a penetração do rio,

em fúria/ânsia/saciar o cio).

A cem metros das manhãs,

um proletário, partidário da poesia

implorava o voto

do andante retardatário:

- Pense nas crianças

violentadas/sem pão;

- Pense nas pessoas

sem labor/lar/educação;

- Pense nas meninas

inocentes/prostituídas;

- Pense em você,

porque teu voto vai te afetar.

Porque há homens que pouco

Se importam se você

vai à capela ou ao banheiro.

Há um carpinteiro (em disponibilidade)

para consertar a porta do teu Pará.

- Este é um três de outubro

de chances para você...

Nenhum comentário: