Okky de Souza
Há décadas os ambientalistas alertam para os riscos da escalada do aquecimento global, mas seus argumentos raramente foram ouvidos. Pudera. As soluções apresentadas para acabar com o efeito estufa passavam por fechar indústrias, prejudicar economias e sacrificar parte do bem-estar conquistado pela humanidade ao longo do século XX. Agora que as conseqüências do aquecimento se abatem sobre várias regiões do globo e os governos se mobilizam em torno da questão por meio do Tratado de Kioto, o ambientalismo começa a conquistar seus mais céticos opositores: os grandes empresários e investidores. Parte deles acredita que a produção de energia limpa pode se transformar num excelente negócio, sem que para isso seja preciso abrir mão das premissas sagradas do capitalismo. Esses empresários avaliam que, como diz John Doerr, um dos grandes investidores do Vale do Silício, “a revolução verde pode se tornar a grande oportunidade empresarial do século XXI”.
À frente desse movimento, que vem sendo chamado de nova revolução verde, está o ex-vice-presidente americano Al Gore. Afastado dos cargos públicos desde que perdeu a disputa pela Casa Branca para George W. Bush, em 2000, Gore se transformou num pregador incansável em favor do planeta por meio de investimentos em novas tecnologias e modelos de negócios. Nos últimos anos, ele já fez mais de 1000 palestras em empresas e universidades, discursando sobre as conseqüências das mudanças climáticas e o que pode ser feito para combatê-las. Há três semanas, estreou nos cinemas americanos o documentário Aquecimento Global, uma Verdade Inconveniente, que tem Gore como protagonista e é amplamente baseado em suas palestras. A fita tem ajudado a imprimir a Gore uma certa aura de astro e guru. Ao comparecer à apresentação do filme em Cannes, no mês passado, ele atraiu mais atenção do que celebridades como Penélope Cruz e Tom Hanks.
Para provar que investir no verde pode ser um bom negócio, há dois anos Gore abriu com outros sócios a empresa Generation Investment Management, um fundo que administra 200 milhões de dólares aplicados em produção de energia sustentável. Também em sociedade com investidores, comprou por 70 milhões de dólares um canal de TV a cabo destinado a divulgar causas ecológicas. Negócios como esses seriam impensáveis até poucos anos atrás, quando a imagem que Wall Street tinha dos ambientalistas era a de um bando de chatos usando sandálias e rabo-de-cavalo.
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